sábado, 8 de dezembro de 2018

Sombras

Que sombras serão estas
Que em fomes de medo
São as fugas desertas,
As verdades falidas
Dos escombros humanos
Que entre a solidão
E a foz noturna
De suas peles sedentas
Buscam no corpo amante
O amor derramado
Pela poesia do canto?

São o coro e o manto
Que apelam, argutos,
À esperança da morte,
Pelos dentes da vida
Que corroem essa sede
Que o eterno mata
E deslumbra, co´o fogo,
O rufar dos encantos,
A poesia da manhã,
A flauta dos segredos
Que em notas de frescura
São as asas fogosas
Da nossa liberdade.

Assinado por Renato Cresppo

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Colheita da Nudez

Me pegue pelo olhar
E, nele, doce se veja
Que, eu, ronda desse mar
Que o corpo seu deseja
Sou este porto de abrigo
Onde seu amor é lei
E, eu, casto e amigo
Me prendo a ele porque sei
Que um amor sem amor
É um castigo de dor.

Colheita da nudez
Nas asas do canto
E em ti me planto
Com a foz da tez
E a voz do encanto.

Se espante com o vento
Que é viajante da festa
Que lhe molha o alento
E lhe arrenda a sesta
Onde o cupido manda
E este amor ciranda.

Colheita da nudez...

Assinado por Renato Cresppo

Absurdidades Poéticas - II

Viva a ignorância poética! Viva os enxertos caducos do versejar livre. Viva o mau olhado da Arte poética! Esmaguem as regras da poesia clássica para que sobreviva o verso livre recheado de prosa fútil e de criações fúnebres elevadas ao altar da eternidade. A poesia vingar-se-á com o polir do tempo e as cinzas dos versos falidos serão um sinal de que o perfume só é válido quando a verdade poética for a realidade dos poetas de eleição

Assinado por Renato Cresppo

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Absurdidades Poéticas - I

Abram-se as portas do absurdo! Proclame-se a dinâmica do caótico onde o caótico é a frustação de um formigueiro que absolve a gravata dos molhos psicóticos. Sinalize-se, com dados viciados, os prognósticos analfabetos das ventosas digitais. Reclame-se, em “outdoors” gigantes, o simbolismo austero da poesia prática. Ensaboe-se os “computers” da biodiversidade com a ginástica polifônica da vírgula verrinosa. Escrevam soluções poluídas com o timbre majestoso do feixe educacional abstrato. Abram alas à futurologia sintética das sínteses programadas em “tablets” de alta costura para que os sons astrais vocabulizem a geometria assimétrica. Sofram com a ciência aguda das incongruências indomáveis e descreva-se, com gols aritméticos, a paixão do seu rouxinol decadente. As alegrias serão cascalho grosso nas ruelas dos estribilhos conflituosos. Que se danem as aventuras do posfácio e a boatice dos prefácios entalados entre o virtual gorduroso e as condolências dos séquitos obtusos. Forremos os vitrais dos olhares oblíquos com as folhas ridículas de um apogeu missionário e, sobretudo, aspirem os aromas camuflados das estantes imortais. O absurdo é o instantâneo fotográfico da soma que o quadrado belicoso desintegra para que a vastidão da insensatez seja um produto informático de viroses apoteóticas. A absurdidade, este absurdo, é um par ambivalente de lentes progressivas.

Assinado por Renato Cresppo

terça-feira, 15 de maio de 2018

Afluentes Poéticos - XIV - Teu corpo etéreo


Na pastagem idílica do teu olhar infinito
Há um rebanho de candeeiros nervosos.
Iluminam a árvore frondosa dos amantes
Que florescem no dique das palavras secas,
Esse descritor de páginas acesas
Pelo lastro do fogo que te fecunda o amor
Que em teu peito florido recolhes
Sob o Pégaso de uma luxúria navegante
Que Netuno amansa e Apolo excita
Para que nas veias do teu sangue efémero
Corra a lava vesuviana do eterno pensamento
Plantando nas pétalas do vigor ternurento
A estrela fulminante do teu corpo etéreo.


Assinado por Renato Cresppo

Afluentes Poéticos - IX - Que morte se espantará?


Que vida é esta que arquivo na minha memória?
Como se ela fosse um besouro
Que se ouve na estridência do hálito urbano?
Recordo o que não vejo
E esqueço o que sinto
Na virulência deste pedaço de carne humana
Como se fosse um grito de silêncio
Ou um eco de porcelana
No hábito de uma fome ancestral.
A resistência ao ato de sangrar palavras
É esta cinza que me respira todo
É esta sombra noturna
Que vagueia elástica
Entre o fogo que a astúcia consome
E o gelo que a definha
Para além de todos os mistérios
Que a janela aberta do tempo
Segreda
Como se fossem o isco dos pensamentos
Que em vagas de sangue sensível
Rasgam a plasticina do passo frágil
E modelam o riso vital das noites inesperadas.
Acordo por dentro
Desfaleço por fora
E seguro do abraço quotidiano
Piso a rota diária da fábula serena.
Que morte se espantará com a lava edílica do meu fermento?

Assinado por Renato Cresppo

Afluentes Poéticos - XIII - Baldio que sou


Neste baldio que sou
Sou o antes de tudo e o depois de nada,
Sendo raro onde estou
E, pleno, em uma conversa, fustigada
Pelo o olhar da ausência,
Pela boca de uma carência
Que veste a nudez
De uma venenosa mudez,
Com epitáfios de surdez.
Neste vício que morde
A dureza de uma inocência,
Há um breve acorde
Que socorre a insolvência
E devolve à aparência
A natureza de um fiorde,
Precipício de sons,
Baldio fresco de tons
Que dedos de tudo
E dentes de nada
Revestem o corpo ossudo.
São conversas de esplanada,
Ouvidos que tudo ouvem
Em sentidos que nada sentem.
Neste baldio em que vivo
A desordem é um sorriso
E, o silêncio, o cativo
Que é um ponto que piso
Ao amanhecer que anoitece
E à noite que entontece
Este baldio que sou
Sem saber onde estou,
Passando por passar,
Vagando, sem vagar.


Assinado por Renato Cresppo