terça-feira, 15 de maio de 2018

Afluentes Poéticos - XIV - Teu corpo etéreo


Na pastagem idílica do teu olhar infinito
Há um rebanho de candeeiros nervosos.
Iluminam a árvore frondosa dos amantes
Que florescem no dique das palavras secas,
Esse descritor de páginas acesas
Pelo lastro do fogo que te fecunda o amor
Que em teu peito florido recolhes
Sob o Pégaso de uma luxúria navegante
Que Netuno amansa e Apolo excita
Para que nas veias do teu sangue efémero
Corra a lava vesuviana do eterno pensamento
Plantando nas pétalas do vigor ternurento
A estrela fulminante do teu corpo etéreo.


Assinado por Renato Cresppo

Afluentes Poéticos - IX - Que morte se espantará?


Que vida é esta que arquivo na minha memória?
Como se ela fosse um besouro
Que se ouve na estridência do hálito urbano?
Recordo o que não vejo
E esqueço o que sinto
Na virulência deste pedaço de carne humana
Como se fosse um grito de silêncio
Ou um eco de porcelana
No hábito de uma fome ancestral.
A resistência ao ato de sangrar palavras
É esta cinza que me respira todo
É esta sombra noturna
Que vagueia elástica
Entre o fogo que a astúcia consome
E o gelo que a definha
Para além de todos os mistérios
Que a janela aberta do tempo
Segreda
Como se fossem o isco dos pensamentos
Que em vagas de sangue sensível
Rasgam a plasticina do passo frágil
E modelam o riso vital das noites inesperadas.
Acordo por dentro
Desfaleço por fora
E seguro do abraço quotidiano
Piso a rota diária da fábula serena.
Que morte se espantará com a lava edílica do meu fermento?

Assinado por Renato Cresppo

Afluentes Poéticos - XIII - Baldio que sou


Neste baldio que sou
Sou o antes de tudo e o depois de nada,
Sendo raro onde estou
E, pleno, em uma conversa, fustigada
Pelo o olhar da ausência,
Pela boca de uma carência
Que veste a nudez
De uma venenosa mudez,
Com epitáfios de surdez.
Neste vício que morde
A dureza de uma inocência,
Há um breve acorde
Que socorre a insolvência
E devolve à aparência
A natureza de um fiorde,
Precipício de sons,
Baldio fresco de tons
Que dedos de tudo
E dentes de nada
Revestem o corpo ossudo.
São conversas de esplanada,
Ouvidos que tudo ouvem
Em sentidos que nada sentem.
Neste baldio em que vivo
A desordem é um sorriso
E, o silêncio, o cativo
Que é um ponto que piso
Ao amanhecer que anoitece
E à noite que entontece
Este baldio que sou
Sem saber onde estou,
Passando por passar,
Vagando, sem vagar.


Assinado por Renato Cresppo