domingo, 8 de março de 2020

Nas teias de uma alucinação delírica - II

Enclausurado, preso, exilado...
Sou um calafrio de dias póstumos. Os meus pensamentos são riscos diários, soprando as metáforas do olhar que transcendem o limiar do absurdo. Cada passo que dou sob os concertos humanos da cidade, revelam a esfinge deste corpo que partilho com as sombras da idade. Ser-se jovem para não se ser velho é um prazo que se valida ao custo de vida. Sob os mantos do silêncio componho sonatas de Outono que o Verão derrete para não decifrar esta ousadia de escrever desafios à docilidade do tempo que nos costura com os pregões da conformidade inapelável. Por muitas perguntas que crave, neste exílio permanente, à suavidade embrionária dos sorrisos complacentes, não lhes ouço os sussurros lancinantes, nem a musicalidade das lágrimas blasfemas. Os dias são dias, as noites são noites, e nada se ouve no lento deslizar das nuvens que são promessas de vãs fertilidades. Tudo é efêmero. E efêmero serei eu, nas águas ligeiras de um rio sem fronteiras. A Morte é um cancioneiro de pássaros, perdidos na combustão do tempo. Assim, eu voarei.

Assinado por Renato Cresppo