terça-feira, 12 de maio de 2020

DOS POEMAS DE QUARENTENA

DOS POEMAS DE QUARENTENA
QUARENTA HIENAS
RIEM, ANTE AS CARCAÇAS
DE FORMA OBSCENA
FINGINDO QUE ISSO TUDO
É NORMAL, BANAL, ANIMAL - DÁ PENA
IGNORÂNCIA NÃO É BENÇÃO
TAMPOUCO IGNORAR É CENA
AGORA ACABA?!
SÓ MAIS UMA QUINZENA!
APODRECE, PUTREFAÇÃO MORAL
GANGRENA!
É BEM RUIM!
SEM FÉ OU NOVENA
NEM CAFUNÉ...
E SOB O JARDIM
COVAS, COVAS E MAIS COVAS - CARNAVAL CABARÉ.
DO JORNAL, MAIS UM BOLETIM:
MORRE MAIS UM JOÃO, UMA MARIA E UM JOSÉ
PARA ELES, SÓ MAIS UM MANEQUIM
A '(S)ANTA SÉ'
E TODO OURO, BANCO E O LATIM
DAEMONIUM' - DO DEMÔNIO, A RALÉ
ACABOU ATÉ O GIM NO BOTEQUIM
ATÉ QUANDO!? QUANTOS MAIS (A)DEUS!?
QUANDO
ISSO VAI TER FIM?

Assinado por Renato Cresppo

sexta-feira, 3 de abril de 2020

O despertar da dor da ausência

A distância não afeta
a fome de ser quem sou
um vulto que se infecta
com a raiva que negou
o vírus que nos detecta
o bobo que nos julgou
sem conhecer o profeta
que nada profetizou.

Despertar a dor da ausência
com a fuga de uma pureza
é vestir a cor da violência
co´a morte velha da beleza.

As farsas do cotidiano
são viveiros de cultura,
nacos do mito ufano
em versos de tortura
e réus de corpo insano
que viajam na tontura
de não verterem o dano
às facas do véu humano.

Ouvir as forças do ocaso
na virgindade da nascente
é inventar o mortal prazo
à água de uma semente.

E nada será urgente
no berço da nossa idade
nem a coragem carente
nem a fluência da verdade
roendo o caruncho vidente
que se alarga à vontade
de cobrir o nosso poente
co´o caos da Humanidade

Assinado por Renato Cresppo

domingo, 8 de março de 2020

Nas teias de uma alucinação delírica - II

Enclausurado, preso, exilado...
Sou um calafrio de dias póstumos. Os meus pensamentos são riscos diários, soprando as metáforas do olhar que transcendem o limiar do absurdo. Cada passo que dou sob os concertos humanos da cidade, revelam a esfinge deste corpo que partilho com as sombras da idade. Ser-se jovem para não se ser velho é um prazo que se valida ao custo de vida. Sob os mantos do silêncio componho sonatas de Outono que o Verão derrete para não decifrar esta ousadia de escrever desafios à docilidade do tempo que nos costura com os pregões da conformidade inapelável. Por muitas perguntas que crave, neste exílio permanente, à suavidade embrionária dos sorrisos complacentes, não lhes ouço os sussurros lancinantes, nem a musicalidade das lágrimas blasfemas. Os dias são dias, as noites são noites, e nada se ouve no lento deslizar das nuvens que são promessas de vãs fertilidades. Tudo é efêmero. E efêmero serei eu, nas águas ligeiras de um rio sem fronteiras. A Morte é um cancioneiro de pássaros, perdidos na combustão do tempo. Assim, eu voarei.

Assinado por Renato Cresppo