terça-feira, 15 de maio de 2018

Afluentes Poéticos - IX - Que morte se espantará?


Que vida é esta que arquivo na minha memória?
Como se ela fosse um besouro
Que se ouve na estridência do hálito urbano?
Recordo o que não vejo
E esqueço o que sinto
Na virulência deste pedaço de carne humana
Como se fosse um grito de silêncio
Ou um eco de porcelana
No hábito de uma fome ancestral.
A resistência ao ato de sangrar palavras
É esta cinza que me respira todo
É esta sombra noturna
Que vagueia elástica
Entre o fogo que a astúcia consome
E o gelo que a definha
Para além de todos os mistérios
Que a janela aberta do tempo
Segreda
Como se fossem o isco dos pensamentos
Que em vagas de sangue sensível
Rasgam a plasticina do passo frágil
E modelam o riso vital das noites inesperadas.
Acordo por dentro
Desfaleço por fora
E seguro do abraço quotidiano
Piso a rota diária da fábula serena.
Que morte se espantará com a lava edílica do meu fermento?

Assinado por Renato Cresppo

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